"Emílio, o ajudador.
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Sempre foi ajudador de gentes. Não se lembra de ter sido outra coisa. Tornou-se adulto aos 10, quando perdeu o pai da noite pro dia. A partir de então era com ele, Emílio, que a mãe e os irmãos contavam. Anos mais tarde, provou-se digno de ter na identidade o carimbo de ajudador oficial. Passava suas noites a amparar estranhos, de hospital em hospital. Acordava antes da hora, havia urgência em todo lugar. 
Um dia, uma doença contaminou praias, praças, países inteiros e o mundo parou – não Emílio. Ele foi para a linha de frente, mais apressado que nunca. Exibia na face as marcas da escolha: uma emergência em todo canto. Liderou o barco, remou. Até que um dia, sentiu a mão de uma ajudadora tocar as suas.
Ela implorou para que ele parasse. "É preciso seguir", disse ele sem fôlego. "Você está prestes a afundar", disse-lhe a colega.
Os ajudadores o levaram, contra a vontade, para uma ilha, sem viva alma. Passou dias procurando, mas não havia ninguém para ele ajudar.
Até que viu uma baleia encalhada, à beira da morte. Emílio correu em sua direção e usou da força que restava ao corpo combalido para salvá-la. Quando a luz da lua revelou que a baleia encalhada não passava de um casco de barco, Emílio fingiu que não viu. Continuou tentando, mas foi incapaz de devolver a baleia inanimada ao mar.
Isolado, viu-se só com Emílio. Emílio puro, sem profissões ou adjetivos. 
Foi aí que percebeu as feridas abertas nas mãos e no rosto, a fadiga dos braços, a ardência nas pernas. Rendeu-se à exaustão. Com ela, vieram à tona as dores de um Emílio que nunca foi cuidado por ninguém, nem por Emílio.
Berrou alto, mas não havia ninguém ali, só ele. Achou que morreria aquela noite, afogado em desamparo. Adormeceu por dias, talvez meses.
Quando abriu os olhos, viu um barco se aproximar. Da proa, sua colega ajudadora quase lhe sorriu. Olharam-se, não trocaram palavras, não havia tempo. Havia um fim do mundo em todo lugar. Remar era preciso."
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Roberta Saboya
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